domingo, 31 de janeiro de 2010

S. MIGUEL DAS AVES NAS ACTAS DA JUNTA


Ainda as Capelas de Sobrado e de Romão (2)

As tensões crescentes entre o poder religioso e o poder civil decorrentes da implantação da República (1910), percorreram a nação lusa a todos os níveis até ao autárquico. Essa tensão manifesta-se também na "Comissão Parochial Administrativa" que, transitoriamente, substituiu a extinta "Junta de Parochia".
Em acta de 9 de Junho de 1912, pode ler-se: "A Comissão deliberou pedir a demissão atendendo a que, tanto o presidente como os seus vogais, julgando-se homens de carácter, não podem de forma alguma admitir a coacção que sobre as suas atribuições se está exercendo por pressão completamente estranha a elles."
Na mesma acta, pergunta-se a seguir "com que direito se apossou das chaves da egreja de Sobrado o reverendo Adriano Filippe Moreira da Silva? Com que direito vai apossar-se, segundo consta, das chaves da capella de Romão?"
No ano seguinte, em 13 de Dezembro, regista-se que foi anunciada a ida à praça (leilão) da capela de S. Lourenço de Romão no dia 18 de Janeiro de 1924, ao meio dia ,na Direcção d eFinanças do Porto. Na reunião desse dia, foi também decidido enviar um ofício à "Comissão Central da Execução dos Bens das Egrejas protestando contra a venda da dita capella e pedindo-lhe ao mesmo tempo a sua entrega à mesma Junta de Freguezia."
Penso que foi aqui que, o que restava da antiga igreja de Romão passou, definitivamente, para as mãos de particulares.

* Na foto, vê-se a base do actual Cruzeiro de Romão que penso ser contemporânea da igreja de Romão.

Monarquia e República: o 31 de Janeiro

A 31 de Janeiro de 1891 deu-se no Porto o primeiro movimento revolucionário que visava a implantação da República.
Só em 1910 esse objectivo foi conseguido, comemorando-se, durante o presente ano, o centenário do acontecimento.

Em Novembro de 1908, D. Manuel II, Rei de Portugal, visitou o Norte do País e foi recebido na Fábrica do Rio Vizela, como se documenta na foto... Uma festa ... real, é bom de ver...
E, então, a República? Como foi recebida, em 1910?

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Arqueologia...

Firme e hirto mas sem função iluminante, este objecto arqueológico é o que resta da iluminação pública dos anos sessenta do séc. XX.

Haverá outros, ainda?

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

J.M.Almeida Garrett (6)

No livro "Glória", o seu autor comprova que, "fora as cartas, o "namoro" se reduziu a três visitas de Garrett, uma delas na sala e duas no "boudoir". À porta fechada, com certeza. Mas nada garantia ( e tudo permitia supor o contrário) que o namoro se tivesse consumado".
No julgamento de Vieira de Castro não ficou provado o adultério: por maioria, os jurados não hesitaram em negar a principal circunstância atenuante: não admitiram o adultério mas que Vieira de Castro estava convencido disso. O tribunal condenou Vieira de Castro a dez anos de degredo por assassínio premeditado, cruel e cobarde, mas, ainda assim admitiu que ele casou por amor e desinteresse e que amava extremosamente a mulher...
Vieira de Castro morreu pouco depois em Angola, onde cumpria a pena.
Esta tragédia inspirou, entre outros, Camilo Castelo Branco, que, alguns anos antes tinha autorizado o jovem Vieira de Castro a escrever a sua biografia. E, o biógrafo de Camilo, tinha, nos jornais da época saído em defesa do escritor e de Ana Plácido, detidos na prisão do Porto por crime de adultério. Vieira de Castro escreveu contra o casamento de conveniência, defendendo o "martírio da mulher vendida pelo pai a um comerciante sem escrúpulos". É um lutador pela liberdade da mulher que, mais tarde, faz uma viagem ao Brasil à procura de um casamento que o livrasse das dificuldades financeiras que o afligiam; consegue os seus intentos e, pouco depois dá um fim trágico à mulher que, eventualmente, o recusava...
Garrett é um figurante menor nesta história mas acaba por arcar com as culpas por efeito das notícias dos jornais da época, da literatura camiliana e do espírito da época, que, nestas circunstâncias, sempre exigia vingança sobre o pretenso amante e causador da desgraça...
Sobre Garrett, escrevia, algum tempo depois Eça de Queiróz em carta a Batalha Reis e Antero de Quental: " o Garrett está nas ambulâncias do exército francês como enfermeiro: estava na primeira ambulância que pertencia ao General Frossard. Estava - porque os Prussianos parece que fizeram fogo sobre esses hospitais de sangue".
Depois viria para S. Miguel das Aves, onde (escreve o Padre da Barca) "solteiro e com uns trinta anos de idade - começa a encher-se de beleza moral. É um verdadeiro penitente. Sai pouco, vive na maior modéstia, visita, conforta e socorre os doentes pobres, frequenta os sacramentos e abre uma escola gratuita para rapazes...".
E, onde, após a morte da mãe, prepara o caminho para fazer a doação que permitiu criar um colégio de raparigas, o "Colégio da Visitação de Santa Maria, onde é ministrado gratuitamente o ensino..."

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

J.M. Almeida Garrett (5)

O livro "Glória" de Vasco Pulido Valente foi escrito com a intenção de "mostrar como agiam, sentiam e pensavam os portugueses letrados de meados do séc. XIX", contando a história de José Cardoso Vieira de Castro, um deputado originário de Fafe que se tornou famoso na política antes dos seus 30 anos e que casou no Brasil com uma herdeira rica que confessadamente assassinou em 1870.
J.M. Almeida Garrett era o destinatário de uma carta que Dª Claudina, de 21 anos, escrevia quando foi surpreendida pelo marido. Garrett era amigo e visita habitual da casa de Vieira de Castro e foi, dois dias depois da cena da carta, desafiado para um duelo pelo marido ofendido. Ramalho Ortigão, amigo de ambos, foi o intermediário do desafio para o duelo: "é preciso que hoje mesmo, antes da noite, me bata em duelo de morte com José Maria de Almeida Garrett. Torno-o cúmplice de um homicídio se não conseguir que o combate se realize, como desejo. No caso negativo, procuro Almeida Garrett e mato-o onde o encontrar".
Garrett, inicialmente, aceitou o duelo; mas a seguir decidiu não se bater, não se importando de se perder para sempre na opinião das pessoas honradas que não conheciam o motivo da recusa. E anunciou que se considerava morto para o mundo, que partia para França para entrar numa ordem religiosa e que não tinha medo da morte física: indicou a hora e o caminho que tomaria, a pé e desarmado, para apanhar o comboio, aguardando tranquilo o que lhe pudesse acontecer.
Ao receber a notícia desta recusa e considerando que seria cobardia matar um homem que resolvido a não se defender, Vieira de Castro chorou... Que plano teria ele em mente? Ninguém poderá responder a esta pergunta... Mas, certamente, teria algum, pois que, depois de receber de Ramalho Ortigão essa informação, declarou friamente que tinha matado a sua própria mulher, na madrugada anterior...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Horas de sombra - Poemas e pensamentos


de Fernandes Valente Sobrinho
(José Mendes Fernandes da Silva)

Aos meus filhos

Edição de 1967

Composto e Imp. na Tip. das Aves



158 Páginas


Poesia

Ao Padre Joaquim da Barca

Poesia é o sangue dos poetas
Cruzando heroicamente em fundas veias;
É o frescor alado das palavras
Sorvendo o gérmen puro das idéias...

É o beijo ardente e enamorado
Da arte em longas horas de tristeza;
Da solidão dos mundos já sonhados
Aos divinais acordes da beleza...

É o silêncio estático das coisas
Tornado em sons, em gestos espectrais;
Tudo o que não tem fala e nos consente
Afinidade em frases virginais...

É a estranha cor das coisas abstractas
Surgindo à pura luz da realidade!
Para além do real há mais beleza,
Facho que loucamente nos invade!...
...

domingo, 17 de janeiro de 2010

J.M. Almeida Garrett ( 4 )

Dizíamos que é possível ler na internet todo o processo da tragédia "Vieira de Castro". Pois aí está o caminho Processo e julgamento .
O que pretendemos contestar é a visão simplista de que J.M. Almeida Garrett foi o culpado da tragédia! A leitura do processo ajuda a perceber o que se passou...
Que na sua juventude J.M. Almeida Garrett não foi nenhum modelo de virtudes comprova-o a fama que ganhou... Numa biografia de Eça de Queiróz que vem citada no 1º volume da Correspondência deste escritor, J.M. Almeida Garrett é referido como fazendo parte dum "grupo de rapazes estouvados e travessos que encaravam a vida apenas pela face da folgança, do prazer e do riso" com quem os escritor convivia. Uma dessas "imprudências" foi um "rapto na estrada de Barcelos duma menina que em companhia de sua mãe e do seu raptor passeava naquela estrada. Felizmente os raptores foram presos em flagrante delito(...)."
Esta fama pode ter ajudado à imagem de culpado da tragédia que ficou para sempre colada à figura de J.M. Almeida Garrett, que chegou a ser suspeito de pretender raptar Dª Claudina Adelaide Guimarães Vieira de Castro...
Vasco Pulido Valente escreveu, em 2002, "Glória", um livro de "história em que as pessoas não se iludem" ( explicitando que "não é um livro de história a fingir de romance, nem um romance documental") e, sobre "a famosa carreira de sedutor" de Garrett "começara e acabara com este ridículo episódio" da estrada de Barcelos.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

J.M.Almeida Garrett (3)

O Padre Joaquim da Barca refere-se ao sr. José Maria de Almeida Garrett como "figura de destaque da alta sociedade do Porto e de Lisboa" que foi, da tragédia Vieira de Castro, "o maior dos culpados e, pela misericórdia de Deus, o menos infeliz dos seus três grandes infelizes protagonistas, tragédia que deu brado em todo o mundo e que emocionou e apaixonou Portugal inteiro e o Brasil inteiro, e que atirara para a sepultura D. Claudina Guimarães Vieira de Castro, mulher ainda no verdor dos anos e muito cortejada, e para as costas de África, onde morreu, passado pouco tempo e quase na miséria, a seu marido, o Dr. José Cardoso Vieira de Castro, homem público de grande talento no manejo da pena e no uso da tribuna".
Não será injusto o Padre da Barca para com o seu professor da Escola da Carreira, ao considerá-lo o maior dos culpados da tragédia?
Para responder a esta questão é preciso investigar um pouco os antecedentes e, depois ler o processo judicial de Vieira de Castro, acessível na internet em ....

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

J.M.Almeida Garrett ( 2)

No livro "SANTO THYRSO DE RIBA D'AVE", publicado

em 1902, em Santo Tirso, pelo Club Thyrsense, o autor, Alberto Pimentel escreve:


"Na quinta da Carreira, freguesia de S. Miguel das Aves, que hoje pertence ao concelho de Santo Tirso, estabeleceu residência um dos primeiros sobrinhos do visconde de Almeida Garrett.


Refiro-me a José Maria de Almeida Garrett, que para ali voluntariamente se relegou arrependido e contrito, depois da tragédia Vieira de Castro.


José Maria fez doação da Quinta da Carreira a Dª.Matilde (....) Albuquerque, que em edifício próprio ali fundou, sob os auspícios do doador, o Colégio da Visitação de Santa Maria, onde é ministrado gratuitamente o ensino, havendo, porém, algumas pensionistas de instrução primária e secundária.(...)
A vida dele, em S. Miguel das Aves, decorreu serena e piedosamente, velando pelo Colégio e entregando-se a actos de devoção.


Saía pouco. Foi um ano à Póvoa de Varzim tomar banhos de mar e vinha algumas vezes a Santo Tirso, vila que ele dizia ser a mais bela que conhecia, tanto em Portugal como no estrangeiro.


José Maria, no seu testamento, feito a 24 de Setembro de 1894, declara ter especial devoção com a Sagrada Família ( Jesus, Maria, José) e querer ser amortalhado no hábito de S. Francisco.


Faleceu aos 12 de Julho de 1899."



Arrependido e contrito depois da tragédia Vieira de Castro..., diz o autor. Que tragédia foi essa e qual o papel do nosso Garrett?

sábado, 9 de janeiro de 2010

J.M. Almeida Garrett (1)

O Jornal de Santo Thyrso de 1 de Junho de 1882, numa notícia sobre exames, refere apresentação a exame da Instrução Primária quatro alunos da Escola Particular de S. Miguel das Aves. E diz ainda que, no exame desse ano, o sexo feminino foi só representado por uma menina, Virgínia Fernandes da Silva Guedes, "leccionada pelo Ilmo. Sr. José Maria de Almeida Garrett na sua escola gratuita de S. Miguel das Aves e fez um exame brilhante".

O Padre da Barca refere em S. Miguel das Aves - Monografia que a "segunda escola foi também particular e funcionou na Quinta da Carreira. Desta escola foi professor o gentilissimo e ilustradíssimo fidalgo o Sr. José Maria de Almeida Garrett. Muitos dos seus alunos deram sacerdotes, médicos, advogados, farmacêuticos, comerciantes e artistas de nome. E, paralelamente à escola do filho, tinha uma escola para meninas sua santa e fidalga mãe, a Sr.ª D.ª Angélica Isabel Cardoso Guimarães Almeida Garrett. (...) Eu fui um dos muitos alunos do Sr. Garrett."

Em Vila das Aves, Elementos para uma monografia , Fernando Marques de Oliveira transcreve o capítulo I das Actas do Mosteiro da Visitação: "José Maria de Almeida Garrett, descendente de uma ilustre família do Porto, frequentava a alta sociedade, levando uma vida desregrada e mundana. Enfim, sentindo-se cansado, deixou todas as pompas e vaidades do mundo e entregou-se todo à piedade, retirando-se, com sua santa Mãe, para uma casa de campo que possuía em S. Miguel das Aves ( Minho) no Norte de Portugal, onde viveu durante alguns anos a vida de um verdadeiro penitente".

Penitente, retirado em S. Miguel das Aves, ensinando gratuitamente crianças, depois de uma vida desregrada e mundana ... Qual a história deste Garrett?

domingo, 3 de janeiro de 2010

Os sinos

"Datam de 1932 0s actuais quatro sinos. Foram adquiridos por subscrição promovida por Bernardino Gomes, Arnaldo Gouveia e Luís M. de Carvalho. Foi seu fundidor Serafim da Silva Jerónimo, com oficina em Braga, na Rua do Corvo. Custaram 16 000$00 e os sinos antigos. (...) O maior, que tem o nome de S. Miguel e que está colocado na sineira da frente tem 677 kg de peso; o segundo, que tem o nome de Nª. Sª. de Fátima e que está montado na sineira do lado do Largo Conde de S. Bento, pesa 464 kg. O terceiro, que tem o nome de S. José e que fica na sineira do lado de Sobrado pesa 316 kg; o quarto, que tem o nome de Santo António e que ocupa a sineira do lado da Barca, pesa 264 kg. Foram subidos à torre na tarde do dia 17 do mês de Junho do dito ano de 1932. E houve fogo e tocou a banda da Fª. do Rio Vizela. São bons, foram benzidos e têm todos, em relevo, a imagem do santo seu padrinho."
(in " S. Miguel das Aves, Monografia", Padre Joaquim da Barca,MCMLIII)

sábado, 2 de janeiro de 2010

O toque dos sinos

" Os sinos tocam às Ave-Marias, ou às trindades; pela manhã, a meia aurora; ao meio dia e à noite - a meio do crepúsculo vespertino. E ao som das nove badaladas, os homens tiram o chapéu e quase todas as pessoas se benzem e rezam três Avé-Marias. E tocam para as missas, ao Senhor Fora, choram a morte dos adultos e festejam a dos anjinhos. E tocam a rebate nos incêndios e nos outros acidentes de gravidade. As funções dos sinos constam dos seguintes antiquíssimos versos:
Laudo Deum verum, populum voco, congrego clero, defunctum ploro, pestem fugo, festa decoro.
Em português:
Louvo ao Deus verdadeiro, chamo o povo, reuno o clero, choro os defuntos, afugento a peste, dou brilho às festas."
(in " S. Miguel das Aves, Monografia", Padre Joaquim da Barca, MCMLIII)

(Uma avaria do sistema de comando do toque dos sinos... acontece! Oportunidade para debater a função dos sinos e a sua pertinência hoje? Talvez....
Embora não consiga chamar o povo ( a prova é que a ninguém ocorreu levantar-se quando desataram a repicar uma destas noites...) ou congregar o clero, é de esperar que continue, reparada a avaria, a chorar os defuntos e a dar brilho às festas, assim louvando a Deus.
Mas, se bem recordo, o seu brilho era maior quando tocado pelo sineiro ou por um dos seus filhos que, de vez em quando, há cinquenta anos atrás, nos autorizava, miúdos que éramos, a assistir, lá em cima, à sua função...)