quinta-feira, 16 de agosto de 2012

S. Miguel e as Aves

Já nos referimos aqui, e anteriormente aqui e noutras entradas relacionadas ao assunto.
O que se transcreve a seguir revela e esclarece algumas subtilezas do discurso paroquial na Vila das Aves, cujo conhecimento é indispensável para interpretar certas posições... 
Estreiteza de vistas, é o que é, como se a balança como símbolo fosse exclusivo de certa iconografia angélica (recorde-se a balança da justiça e a balança do zodíaco!)... Como se a iconografia de S. Miguel fosse exclusivamente a da balança... 
Eclipse total? Terá a tal balança dos tais "Boletins" sido roubada ao santo? E, passada a "romaria", perdeu-se a balança e não mais se encontrou (o  que explicaria que ... o S. Miguel do viaduto sobre o caminho de ferro... não é o padroeiro?).  Então o santo não é um, são dois?... E este é para lutar com quem?

daqui:

"a balança é símbolo distintivo e individualizante do culto ao nosso São Miguel Arcanjo como intercessor para com as benditas Almas do Purgatório, hoje cada vez mais teologicamente referidas como Fiéis Defuntos. Necessariamente recordo que, após o Partido Renovador Democrático (PRD) ter vencido as Eleições Autárquicas de 1985 em Vila das Aves, a estatuária do São Miguel Arcanjo da balança sofreu um eclipse total e, concretamente em Vila das Aves, até foram publicados pelo “Movimento de Independentes” sob a sigla PRD dois Boletins (eu tenho o nº 0 e o nº1 que me foram metidos na caixa do correio) intitulados “A Balança”!"


"Vila das Aves, três de Julho de 2012, primeira terça-feira do mês que por ser o dia litúrgico do Apóstolo São Tomé, me faz escrever o que já disse e volto a lembrar: o São Miguel junto ao viaduto sobre o caminho de ferro não é o Padroeiro de Vila das Aves, mas sim o São Miguel encontrado na Net para lutar com São Tomé…"
"Padre Fernando de Azevedo Abreu."

S. Miguel ... o outro... (o guerreiro onde descansam as pombas da paz...)

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Aves – Negrelos: um despique jornalístico entre amigos, em 1930.(11)

O Padre António escrevia em 20 de Outubro de 1930:
Empresa Industrial de Negrelos, na margem direita do Vizela..(1955?)

                O sr. F. Machado Guimarães, pessoa de destaque e morador na freguesia do Ave, mandou gravar na Fábrica, que agora lhe pertence, estas palavras: “Fábrica ou Empreza Industrial de Negrelos”.
                Numa reunião em que este cavalheiro estava falando, junto à ponte de Negrelos, voltado para S. Miguel do Ave, ou das Aves, disse ao sr. Capitão Bacelar e a dois indivíduos de distinção, estando eu presente – Esta região de Negrelos é muito importante. Depois explicou da seguinte forma: temos ali a farmácia do sr. Aires e lá no alto mais duas e um médico, ali no fundo a grande Fábrica de Negrelos, e um notário privativo dessa importante freguesia de Negrelos, a Fábrica do Sr. Moreira, a Fábrica de fazer papel, a minha Fábrica, a Fábrica dos pentes, etc.
                Ora, se este grande industrial assim falava, é porque tinha a consciência de que dizia bem e não não enganava pessoas de elevada posição social, que vieram ali tratar de um melhoramento de vulto na Telégrafo Postal. Foi Administrador do concelho de Santo Tirso, é actual Camarista e da “Comissão pro-Aves”, portanto o depoimento dele tem grande valor, e confirma a minha asserção de que esta região tem o nome de Negrelos; e achava bonito e bem e apropriado, na sua Fábrica, o nome glorioso e nobre de Negrelos. Na sua Fábrica não quer Aves, nem galinhaço. Ali há ordem, respeito e limpeza.
                Além de tudo, que fica dito, vem em abono da minha proposição a existência, em S.  Martinho do Campo, da ponte românica de Negrelos, e em Roriz a capela da (…)
                (…) Quando rezar peça a Deus por mim, para que de guerreiro me torne santo, como o D. Nuno, e me dê paciência para aturar as suas chicanices de ataque bisonho e inferior, cujo efeito  psicológico no povo ilustrado é contraproducente ao que o colega julga obter.
                (…) Todos os habitantes da freguesia do Ave, em todas as eras, respeitaram sempre o nome de Negrelos, que tem pergaminhos próprios. Não pode ser fidalgo um simples servo de gente d’algo.
                Ora a freguesia das Aves já foi súbdita, e criada, dependente de Barcelos e de Famalicão (os nobres), portanto não pode ser superior aos nobres e fidalgos de quem esteve dependente, e torna a estar dependente de outrem.
Agora depende de Negrelos e de Santo Tirso.
                O santo da inconfundível, nobre e fidalga vila já desconfia da sua súbdita e afilhada do Ave, e não admira, porque todos sabem que é de origem bárbara, e foi despedida à francesa pelos nobres Barcelos e Famalicão.
                Quem é assim despedido, é sinal de ser fraca criatura, e o Santo Tirso austero e um tantito desconfiado  vigia a sua criada Aves , porque, além de mais defeitos, é vaidosa em demasia, não obstante ser pobre.
                (…) Já que estamos em maré de mudança de nomes, melhor será, para castigo de S. Miguel, crismá-lo, mudando-lhe o nome para Santo Antoninho do Ave.
Com o é taumaturgo português e não estrangeiro, pedindo-lhe com devoção, perseverança  confiança, é capaz de fazer nascer  outro Rio Ave no cume de Sobrado e deslizando pelo meio através da sua freguesia e Romão até Caniços, ficava com dois autênticos verdadeiros Aves, e então e só então poderia dizer com verdade e propriedade  que a sua freguesia era dos dois Aves, e de seca esquelética passava a ser fertilíssima, de contrário não diga barbaridades e inexactidões, que é capaz de enganar o digníssimo Abade de Burgães, que nem gracejando mente, e não conhecendo as duas freguesias, pelas suas descrições fica supondo que a sua é uma cidade, e a de Negrelos, que é uma aldeia de Paio Pires ou a ilha do Diabo.
                Diga a essas mulheres de asas aveludadas e macias que deitem muitas flores na Ponte de Negrelos, porquanto  todo o ano lá passam para levar a água de Negrelos em milhares de cântaros, para dessedentar esse povo que periga de sede , e se parasse a Fábrica morria de fome.
Au revoir.