domingo, 30 de março de 2014

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No canudo da "traineira", fotografado em Nov de 2013

segunda-feira, 17 de março de 2014

"Lucta Operária"

O título reproduzido na figura é o número 1 de um jornal operário publicado em Burgães no ano de 1910 por Zeferino Moreira Coelho.
Tem data de 25 de Setembro desse ano e designa-se como "semanário defensor das classes operárias, comércio e indústria". E como a Fábrica de Negrellos era, à época, a maior têxtil da região, para conhecer as condições de vida na nossa região é preciso ler estes periódicos.

Este jornal parece ligado a um movimento de constituição de uma associação de classe dos operários têxteis (o director e proprietário do jornal também assina, como presidente, neste primeiro número, um aviso de adiamento da reunião que haveria de tratar do funcionamento de tal associação, marcada para o lugar da Boavista, em Rebordões, na loja de fazendas de David António da Silva Moreira). 

No conteúdo dos primeiros números é bem clara a intenção de lutar pela melhoria das condições de trabalho e são feitas referências a uma greve geral que terá tido lugar em Julho de 1910 ("foram nada menos de oito mil operários que fizeram paralisar, com a falta do seu braço, treze estabelecimentos fabris")( ver nº 2 do citado jornal) e às razões de tal greve: "o salário mesquinho, os vexames e as violências sucediam-se indeterminadamente há longo e estirado tempo. Homens e mulheres, arrancados ao campo para a faina das fábricas, uma ignorância trágica e a exploração infame por parte dos industriais, haviam-os tornado excelente rebanho para implacável tosquia.  Em verdade, a situação dessa gente não era superior à dos escravos".
Outra passagem refere o trabalho  infantil e os castigos: " aos rapazitos de 11 a 13 anos eram confiados duros trabalhos, próprios de homens, pela mísera recompensa de 60 a 80 reis por dia! A activar o zelo deste pobres mocitos, os empregados sovavam-lhe o lombo a cacete ou faziam-lhes inchar as mãos a palmatoadas!"
Há referência, também, à "compra" de votos em eleições, nomeadamente em Riba d'Ave e em Negrellos: "metia nojo ver, nas eleições passadas, o eleiçoeiro de Riba d'Ave junto da urna a entregar listas aos seus operários para o candidato amigo! E porque um ou dois desses operários o não fizeram , daí a dois dias arremessou-os à miséria retirando-lhes o trabalho" e  "na fábrica de Negrelos outro tanto sucedeu e, senão obrigaram os operários a da-lhes o voto, mandaram pessoas pelas portas a pedir às pessoas de família dos operários para comparecerem nas assembleias dando o voto por aqueles onde os seus filhos trabalhavam."

Reprovações contra o governo por falta de legislação de protecção aos trabalhadores e apelo a estes para aderirem à associação de classe estão sempre presentes e é notável um sentido de liberdade do director e editor: " sem paixões partidárias, temos ao menos, à falta de outra, esta superioridade: a de podermos dizer sem rebuço, sem convencionalismos embaraçantes, a verdade como a pensamos e sentimos".

( O segundo número da Lucta Operária saiu dez dias antes da implantação da República...)

Nota: ao prof. José Machado, o meu obrigado pelas fotocópias...