quinta-feira, 31 de maio de 2012

Aves – Negrelos: um despique jornalístico entre amigos, em 1930.(4)

( e continua, o padre Joaquim…)

“se as mirasse com as suas boas lentes de aros de ouro, descobriria, através da bruma dos séculos, que o mimosíssimo triângulo que tem o vértice nos Caniços e a base em Lordelo e Riba d’Ave, foi sempre mais florescente e povoado que a sua paróquia, chegando a comportar três freguesias, todas de antiquíssima formação .(…)
As Aves o que são devem-no à sua excelente situação geográfica, às maravilhosas condições da sua topografia, ao bairrismo dos seus moradores e à generosidade de alguns dos seus filhos. Não querem a freguesia de S. Tomé de Negrelos para mãe, quanto mais para pai!...(…)

E também não estão resolvidas a consentirem que se confunda o seu  belíssimo nome “Aves” com “Negrelos” que não lhes pertence, nem reconhecem a ninguém o direito de lho querer impor. As quatro letras da palavra “Aves”, para mim e para todos os meus conterrâneos, valem mais e dizem muito mais que as oito – e dantes eram nove!- de Negrelos.


Resposta do Padre António…

Negrelos,  14-9-930

Lendo no último número do “Jornal de Santo Thyrso” a correspondência das Aves, veio-me à lembrança o camponês que embirrava com os paus de ferro e o Dom Quixote, que supunha ver num moinho de vento um inimigo temível a esgrimir lanças; e notei que o amigo Padre Lemos foi duma infelicidade pasmosa ao pretender dolosamente dissecar e refutar a minha prosa plumitiva, testa, brava e indignada!... (…)
Foi preciso esperar mais de 20 anos para ver,
ainda que efemeramente, o nome Aves
na estação...
Eu e os meus patrícios não confundiremos o sexo macho com o sexo fêmea. Ficamos sabendo que as fêmeas Aves , por si protegidas, têm quatro penas e o macho Negrelos tem oito e que antigamente tinha nove, mas que lhe foi cortada uma.
Negrelos está aqui de cima com vida e saúde, as Aves ficam-lhe aos pés. A linha férrea e o rio separam o macho das fêmeas, não se misturam. Morra descansado e em paz.
V. Reverência tem a estuar-lhe no peito três amores: o amor da religião, que professa exemplarmente, o amor da família, que idolatra, e o amor das peregrinas e queridas Aves, que o entusiasma e apaixona.
É  seu sonho dourado engrandecê-las com bons caminhos e estradas, casas bem construídas e alinhadas e que tenham inscrita a ouro, como brasão fidalgo, a palavra Aves.
Eu preferia mandar pintar uma Ave em cada casa. Ficava a matar esse símbolo onomástico. Nomes são nomes, não enchem barriga, ao passo que as Aves  parecem as naturais que, preparadas com arroz, fazem um pratinho muito apreciado.
É mais estético e afidalgado pintar uma Ave , e é de mau gosto e até ridículo escrever a palavra Aves na frontaria das casas.
Quem passar de viagem no comboio, vendo escrita na Estação a palavra Aves, diz logo: “ ali está uma gaiola”; e como Aves é um termo genérico, podem fazer ideia que é um galinheiro que contem galos e galinhas para despachar . Reparando que todas as casas ostentam o mesmo onomástico Aves concluem logicamente: aqui é a terra das galinhas e dos galos, porque existem muitas capoeiras;  como corolário flui naturalmente que não se deve escrever a palavra Aves na estação de Negrelos nem em casa de rico ou de pobre, de contrário fica a freguesia de S. Miguel das Aves a ser conhecida por freguesia das capoeiras
Se a lógica não é uma batata, fica provado filosoficamente que se deve conservar o nome de Negrelos na estação  e não o trocar pelo ridículo Aves.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Aves – Negrelos: um despique jornalístico entre amigos, em 1930.(3)

" O sr. padre António, do seu solar de Quintão, olhou para o passado
das minhas peregrinas Aves sem óculos..."

(ainda o Padre da Barca, em 8-9-1930)

“… O próprio mafarrico não se lembrava disto! …. Depois chama-lhe carcaça seca, mirrada, esquelética e sem vida. Em primores ninguém o vence, meu caro amigo, nem em fantasias!
E mais abaixo dá-lhe uma cabeça com bico, garras e asas e acaba por lhe chamar Ave medonha! Isto é que é usar termos polidos, sem falar na sua impropriedade, pois a minha freguesia não tira o nome que orgulhosamente usa de nenhuma espécie de animais alados, mas dos dois rios murmurantes que a cingem com a sua linfa e cuja frescura e poesia admiravelmente traduz!...
(…) Se S. Tomé tem caminhado tão vagarosamente; se não tem tido energias para se engrandecer a si própria, como poderia ser capaz de transformar as Aves na princesa do concelho?
(…) Ao antigo “Julgado de Negrelos”, do qual a sua terra se orgulha de ter sido a sede, com o que nada temos, nenhum bem nos veio e nunca lhe pertencemos.
A sua influência, infelizmente bem restrita, jamais conseguiu fazer-se sentir do lado de cá do Ave que nos banha pelo nascente, o Avicela, o Avesinho.
Aqui mandou primeiro Barcelos e depois Famalicão. A nossa ascendência é bem mais distinta e fidalga. E note o sr. Padre António que os famalicenses  já nesse tempo davam  a esta minha terra o qualificativo de “pérola” do seu concelho. É evidente que à “Fábrica de Fiação e Tecidos do Rio Vizela” alguns favores devemos. Mas ela não foi fundada por S. Tomé de Negrelos. Os capitais de tal empresa eram estranhos a ela. O ser aí fundada foi uma questão de sorte. Nada mais. E ela, para atingir o esplendor e a importância que hoje tem –o que não pouco tem contribuído para o progresso de S. Tomé – teve de procurar as Aves que lhe forneciam mais vantagem na largueza do terreno e na proximidade do caminho de ferro. Se não mudasse de freguesia, não valeria um terço do que hoje vale e S. Tomé pouco mais adiantada estaria que no tempo dos fidalgos de Vilela ou do Paço.
O sr. padre António, do seu solar de Quintão, olhou para o passado das minhas peregrinas Aves sem óculos. E depois a miopia não o deixou ver nada.”

domingo, 27 de maio de 2012

Aves – Negrelos: um despique jornalístico entre amigos, em 1930.(2)


Em  8-9-930, a resposta do Padre Joaquim da Barca ao Padre António de Xisto:


“Estive tentado a não responder à injusta descompostura que sob o título “Negrelos e S. Miguel das Aves” me deu o meu grande amigo o sr. padre António Maria Monteiro Brandão, no número 18 deste semanário.
O comboio na estação de Negrellos - desconhece-se a data da foto;
 pode ter cerca de 100 anos.
Parece-me tão sem razão a tunda e tão clara a influência de algum “espírito santo de orelha” que estive para a deixar passar sem nenhuma referência.
Mas para que ninguém pudesse acoimar o meu silêncio de desconsideração- coisa que aquele  ilustre senhor não merece – resolvi responder-lhe com a máxima serenidade e mansidão.
Incorri  nas censuras de tão respeitável sacerdote por ter chamado estrangeira e feia à palavra “Negrelos”.
Escreveu ele que eu, ao adjectivar “Negrelos “ desta maneira, fui desprimoroso e ingrato, asseverando para fundamentar a sua proposição, que as Aves deviam tudo a Negrelos.
Como, porém, com certeza por um lamentável esquecimento, não provou as suas acusações, eu podia limitar-me a negar que não fui nem uma nem outra coisa e a rejeitar também como uma autêntica falsidade a sua afirmação de que a minha terra deve tudo a Negrelos (…).
Mas irei mais adiante um bocadinho e não terei necessidade de suar o topete para destruir, até à raiz, aquelas afirmações todas. Todas, todas.
(…) Eu não fui desprimoroso chamando estrangeira à palavra Negrelos, O adjectivo estrangeiro, aplicado a quem não é natural de uma terra, não envolve nenhum desprimor ou então os dicionários estão errados… Ora aqui nas minhas Aves aquele termo é não só estrangeiro mas estrangeiríssimo, porque não nasceu nelas nem nelas está registado, nem no religioso nem no civil. É um enxerto de mau gosto que não pode nem deve pegar.
Ao apelidá-lo de feio  confesso que não fui lá muito cortez… Podia ser mais delicado um nadinha, mas mentiroso não fui… porque Negrelos não é bonito nem bem sonante. Fónicamente não presta para nada. A sílaba “gré” fere os tímpanos como a cantilena da cigarra em tardes de estio.
E a sua significação etimológica, segundo o parecer de alguns, também não é das coisas mais belas do mundo. Fazendo-o derivado daspalavras latinas niger e ager significa campo negro, terra negra… E o negro nunca foi coisa bela….
(… ) O sr. padre Brandão sai-se-nos depois com a seguinte tirada, que é de fazer morrer a rir: As Aves devem tudo a Negrelos!... O próprio mafarrico não se lembrava disto…”

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Aves – Negrelos: um despique jornalístico entre amigos, em 1930.(1)



Padre Joaquim da Barca e  Padre António de Xisto, era assim que eram conhecidos. 
Um de cá, o outro de lá. Defensores da sua terra, cada um da sua.
Apreciem o que escreveram ambos no Jornal de Santo Tirso…

Aves, 29-7-930
Descabimento da  palavra “Negrelos”

Com o termo “Negrelos”  ou com o patronímico “Negrelense” aplicados às Aves ou a qualquer coisa das Aves de nenhum modo posso concordar.
São enxertos de péssimo gosto que temos de destruir. Não há nada que justifique o uso dessas palavras aqui.
Não posso compreender como se foi buscar fora o nome “Negrelos” para o aplicar à estação do caminho de ferros e à estação telegrafo-postal. É coisa que não tem nenhuma explicação. Eu pelo menos não a encontro.
Para mim há de ser sempre nome estrangeiro e o  seu derivado “negrelense” há de soar sempre ao meu ouvido desarmoniosamente.
Foi uma importação escusada e infeliz.
Foi uma invenção desastrada que pode, se não houver cautela, relegar para lugar secundário o verdadeiro e expressivamente belo nome da nossa terra.
A todos os que se prezam de bairristas impõe-se o dever de evitar por  todos os meios que tal coisa se dê. Todos os que forem amigos das Aves e seus bons filhos não podem dizer que são de “Negrelos” nem a nenhuma coisa nossa podem dar a designação de “negrelense”.
(…) As coisas querem-se no seu lugar. Negrelos tem de ser banida, tem de ser escorraçada, temos obrigação de a fazer repassar o cristalino caudal do Avicela.
Do lado de cá nem ela está bem nem nós. É palavra sem sentido e usurpadora.

Padre Joaquim da Barca

A resposta do Padre António de Xisto:



quinta-feira, 24 de maio de 2012

domingo, 20 de maio de 2012

Um Dia de Festa



FUTEBOL

Quem se lembra desta festa?

E dos seus "heróis"?

Época de 1962/1963

C.D. das Aves sagra-se campeão regional da 2ª Divisão

Com a vitória de ontem, do grupo local de futebol, os desportistas da Vila das Aves viveram momentos do mais intenso entusiasmo, aplaudindo ruidosa e vibrantemente os jogadores que acabaram de conquistar com todo o brilho o título de campeões regionais da IIª Divisão.

Dado que ao grupo da “casa” importaria vencer este último encontro do Campeonato para se sagrar campeão, o campo “Bernardino Gomes” registou a sua maior enchente de sempre. E os adeptos do clube local, acicatados por esse desejo, apoiaram incessantemente a sua equipa.

AVES: Soares dos Reis, Loureiro, Neira e Domingos; Fernando e Dieste; Soeiro, Rapinha, Pereira Lima, Zé Pereira e Miranda.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Inscrições


Na fachada poente da Casa de Poldrães, as armas dos Araújos, no caso, do capitão António de Araújo, natural de Sanfins de Riba d'Ave (cf. Fernando Marques de Oliveira, "Vila das Aves, Elementos para uma monografia").






domingo, 13 de maio de 2012

sábado, 12 de maio de 2012

Inscrições

"Vila das Aves sustenta os seus pobres. Proibida a mendicidade", na estrada nacional,  nas Carvalheiras. Uma de várias placas colocadas há cerca de 50 anos.
( As inscrições perduram. As intenções com que foram feitas... também? E as prescrições... não prescrevem?)

terça-feira, 8 de maio de 2012

Inscrições


Inscrições em casas antigas - Construída em 1734



Reconstruída em 1949
Rua dos Correios
Ao lado do Rio

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Inscrições


Na parede da casa das máquinas da turbina do Amieiro Galego.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

DÉCIMAS SÉTIMAS JORNADAS CULTURAIS DE VILA DAS AVES,
Editor:  P.e Fernando Azevedo Abreu, Pároco de Vila das Aves.2004, Execução gráfica da Gráfica  do Ave, Riba d'Ave.





No registo das Jornadas Culturais de 2003 pode ler-se o texto da Conferência do Padre Geraldo Coelho Dias sobre o Padre Joaquim da Barca, comemorando os 50 anos sobre a publicação da Monografia de S. Miguel das Aves. Aparece ainda uma série de fotografias de uma sessão de homenagem ao Padre da Barca no centenário do seu nascimento (Julho de 1982), no Salão Paroquial, e a transcrição de textos jornalísticos do homenageado.  Duas intervenções enquadradas pelos 25 anos da Associação Avense estão também reportadas e documentadas e os 70 anos de Escutismo na Vila são objecto de outra intervenção. A inauguração do  "eco-museu" da paróquia e   da restaurada Residência Paroquial  estão também documentadas, como profusamente o estão as  notícias da imprensa sobre as Jornadas, o que já vinha sendo hábito continuado.


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Luís Álvares Correia, Abade, 1623-1626

O Padre da Barca não o menciona na lista dos abades e curas de S. Miguel das Aves que incluiu na sua Monografia. Mas o Dr. Geraldo Coelho Dias já o inclui na lista que publicou em "Ave, Cadernos de Cultura 7" da CMST.

O abade da "Paroquial Igreja de S. Miguel de entre ambas as Aves" era doutor por Coimbra e Salamanca e foi secretário do Arcebispo de Lisboa e Governador de Portugal, quando reinava em Portugal um dos monarcas espanhóis da dinastia dos Filipes...

A capa da obra deste abade, impressa em Madrid em 1629 e escrita em castelhano mostra bem como o nosso abade assumia a sua relação com a paróquia, estampando o nome desta em castelhano: S. Miguel de Entrambalasaves.

A imagem da capa do livro foi obtida aqui e a ficha biográfica abaixo apresentada é da "Bibliotheca Lusitana" Vol III de Diogo Barbosa Machado, 1752, acessível no Google Books...

Um ilustríssimo e ilustradíssimo abade...