
Conta ele, dos dias passados na cadeia: " Durante o dia, tinhamos uma distracção, era quando, ouvido o sinal de aproximação de alguma força militar, vinhamos ao fundo da escada receber num abraço um novo companheiro de desgraça!".(...) Nesta prisão foi-me insinuado fazer uma declaração da fé republicana e declarar-me disposto a aceitar a pensão, afim de ser posto em liberdade. Não posso deixar de referir-me neste lugar ao nosso bom companheiro C. Mallen, que passava todo o tempo numa inquietação extraordinária, e toda a noite tomando chávenas de chá. Uma noite em que se disparara a arma da sentinela, esse bom amigo, numa aflição impossível de descrever, bate-nos à porta e, arquejante, só tem força para dizer: "ouviram? É um tiro". Imaginava ele que qualquer dia seríamos fusilados.
Chegou o 5 de Outubro, dia de festa para um regimen cujos adeptos outrora apregoavam essas sedutoras palavras :- liberdade, igualdade, fraternidade. Às 8 horas da manhã, na cadeia de Santo Tirso, entrou um oficial do exército e intima a estarem prontos, dentro de uma hora, a fim de seguirem para o Porto, os seguintes presos (...) . Da estação de S. Bento, no Porto, até ao Aljube, fomos constantemente apodados de garotos, asassinos, traidores, vendidos, etc, etc... e arremessavam-nos às faces imundícies levantadas das ruas.
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