Arnaldo Gama também faz referência ao "Cerco de S. Sebastião" em S. Miguel das Aves, em época anterior àquela a que o Padre da Barca se refere.
No volume "Só as mulheres sabem amar", 1ª parte de "Verdades e Ficções" e, mais precisamente na novela "Um defeito de organização", datado de 1852, o autor portuense que também viveu por cá e que situa cá todo o desenrolar da novela, como já referido aqui, põe na boca dum popular a frase: " benho todo cheio de nadoas de binho, e ainda por riba perco o cêrco de Martle e a museca de Riba d'Ave, que bai função rija".
Para explicar de que se trata, o autor escreveu em nota de rodapé:
" Creio que não há aldeia alguma do Minho onde S. Sebastião não seja festejado com missa cantada e procissão, uma vez cada ano. É isto que se chama o cêrco do Martle, que é a procissão do Corpus para o lavrador do Minho. Este costume, tão geral, é resultado da promessa feita por um dos nossos reis, em consequência da peste que assolou o reino. Se bem me recordo, foi D. João III.
No volume "Só as mulheres sabem amar", 1ª parte de "Verdades e Ficções" e, mais precisamente na novela "Um defeito de organização", datado de 1852, o autor portuense que também viveu por cá e que situa cá todo o desenrolar da novela, como já referido aqui, põe na boca dum popular a frase: " benho todo cheio de nadoas de binho, e ainda por riba perco o cêrco de Martle e a museca de Riba d'Ave, que bai função rija".
Para explicar de que se trata, o autor escreveu em nota de rodapé:
" Creio que não há aldeia alguma do Minho onde S. Sebastião não seja festejado com missa cantada e procissão, uma vez cada ano. É isto que se chama o cêrco do Martle, que é a procissão do Corpus para o lavrador do Minho. Este costume, tão geral, é resultado da promessa feita por um dos nossos reis, em consequência da peste que assolou o reino. Se bem me recordo, foi D. João III.
Relativamente à vizinha freguesia de Lordelo, cujas tradições e costumes não serão muito diferentes, dizia o respectivo pároco em 1842, respondendo ao Inquérito Paroquial dessa data, que se pode ler na íntegra aqui:
"Os festejos mais usuais é a Procissão do Cerco de S. Sebastião, que se faz anualmente, e que os povos não afrouxam em semelhante função; a experiência o mostra, porque todos concorrem para ela."
As procissões do Cerco de S. Sebastião foram "proibidas em finais do século XIX. No bem estudado arquivo da freguesia de Beiriz conserva-se a “Provisão Pastoral do Arcebispo de Braga”, datada de 4 de Junho de 1872, interditando estas manifestações invocando que “se tem convertido em occasião de muitas irreverencias, desacatos e peccados, já por que atravessando montes e sitios escabrozos e caminhos defficeis não é possivel guardar-se nellas a decencia e respeito que deve observar-se em todos os actos do culto divino; já porque esfriando a fé e devoção que aconselhou o establecimento destas solemnidades, e augmentada a immoralidade de que tudo abusa, têm-se tornado incentivo para ajuntamentos profanos, nos quaes nem a religião, nem a moral publica são respeitadas” (in Deolinda M. V. Carneiro, As procissões na Póvoa de Varzim 1900 1950, Tese de Mestrado UP, consultada em http://www.memoriamedia.net/bd_docs/transcrioes_Povoa/imagin%E1rio%20religioso.PDF ).
Falta esclarecer porquê "do Martle", na linguagem popular transcrita por Arnaldo Gama. Na novela, a palavra Martle aparece, noutro contexto, com o significado de Marte, o planeta (" de todos os plainetas que tenho bisto no Lunairo, aquele com que zango mais é o plaineta Martle") .
Mas é muito mais plausível que, no caso, martle seja corruptela de Mártir.
A procissão seria pois o Cêrco de S. Sebastião ou o Cêrco do Mártir (S. Sebastião).
As procissões do Cerco de S. Sebastião foram "proibidas em finais do século XIX. No bem estudado arquivo da freguesia de Beiriz conserva-se a “Provisão Pastoral do Arcebispo de Braga”, datada de 4 de Junho de 1872, interditando estas manifestações invocando que “se tem convertido em occasião de muitas irreverencias, desacatos e peccados, já por que atravessando montes e sitios escabrozos e caminhos defficeis não é possivel guardar-se nellas a decencia e respeito que deve observar-se em todos os actos do culto divino; já porque esfriando a fé e devoção que aconselhou o establecimento destas solemnidades, e augmentada a immoralidade de que tudo abusa, têm-se tornado incentivo para ajuntamentos profanos, nos quaes nem a religião, nem a moral publica são respeitadas” (in Deolinda M. V. Carneiro, As procissões na Póvoa de Varzim 1900 1950, Tese de Mestrado UP, consultada em http://www.memoriamedia.net/bd_docs/transcrioes_Povoa/imagin%E1rio%20religioso.PDF ).
Falta esclarecer porquê "do Martle", na linguagem popular transcrita por Arnaldo Gama. Na novela, a palavra Martle aparece, noutro contexto, com o significado de Marte, o planeta (" de todos os plainetas que tenho bisto no Lunairo, aquele com que zango mais é o plaineta Martle") .
Mas é muito mais plausível que, no caso, martle seja corruptela de Mártir.
A procissão seria pois o Cêrco de S. Sebastião ou o Cêrco do Mártir (S. Sebastião).
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