sábado, 20 de fevereiro de 2010

Arnaldo Gama (4)

JM, um amante da escrita e dos livros e sempre atento e dedicado às questões da nossa terra, deu-me a conhecer "Dois escritores coevos - Camilo Castelo Branco e Arnaldo Gama", de Augusto Gama, livro de 1933, onde se encontra reproduzida uma aguarela do autor relativa à Quinta de S. Miguel das Aves.

Augusto Gama, filho de Arnaldo Gama, refere: " A quinta do Outeiro, em S. Miguel das Aves, concelho de Santo Tirso, pertencia ao meu avô e era o retiro favorito do meu pai nas suas férias de Coimbra, sendo dali que colheu os principais elementos para " O segredo do Abade" e " O Sargento-mór de Vilar".

" O lugar é inteiramente diferente de S. Miguel de Seide, pois é alegre e povoado, correndo-lhe perto o rio Ave."

Augusto Gama conta também a sua passagem pela quinta, em duas ocasiões separadas: 1872 e 50 anos mais tarde... Assim:

Eu fui lá em 1872, tinha treze anos, acompanhado por uma velha criada da família, encarregada por meu avô de transmitir ao caseiro, o António do Outeiro, umas ordens e de verificar a sua execução.
Estive ali oito ou dez dias.
Era uma propriedade genuinamente minhota, pitoresca e alegre, cujas entradas, a principal e a dos caseiros, deitavam para um souto de grandes e antigos carvalhos.
Entrando pela porta principal, deparava-se uma larga avenida , ladeada de muros cobertos de limoeiros, por detrás dos quais, à direita era o jardim e o pomar, e à esquerda a eira e as suas dependências.
Ao fundo, em frente e a toda a largura, um muro com uma larga cancela, a abrir sobre as córtes e a as casas do caseiro; e à direita a casa de habitação, com a sua escadaria em quadrado, a dar acesso à sala principal.
Toldando a avenida, uma grande ramada de castanho em forma de maceira."
(...)
Essa propriedade foi vendida por morte de meu avô e, durante muitos anos, não voltei lá.
Passados cinquenta anos, eu tinha reminiscências completas de tudo; e , com uma grande vontade de rever aqueles sítios, para lá larguei de S. Miguel de Seide.
Conheci logo o Souto; e vendo a porta dos caseiros aberta, reconheci a casa.
Obtida a necessária licença do caseiro, entrei. Tudo na mesma, como há cinquenta anos! Apenas foi substituída a velha ramada de maceira por uma de ferro em arco.
De resto, a mesma avenida, os mesmos muros, a mesma casa e o mesmo jardim com o seu poço de roldana ao centro.
Que saudades!
(...)

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