(Publicado no jornal Entre Margens)
9 – A data
do Jornal das Aves é 3 de Novembro de 1962 e a crónica diz: “começou,
finalmente, no passado domingo, o campeonato distrital da 2ª divisão. O nosso
clube recebeu o Castelo, a quem venceu por três bolas a duas. Não se pode dizer
que o jogo tenha sido tão difícil como se pode depreender do resultado. Mas
também não se jogou bem. Dominou-se bastante e só nisso estará o mérito da
nossa vitória. De futebol limpo, apenas esteve em campo o nosso desejo. (…)
Ganhou-se o primeiro jogo do campeonato, coisa que já há algumas épocas não se
verificava. Talvez isso seja bom prenúncio.”
“Impressionou-nos a forma como apareceu o
Miranda, depois de tanto tempo parado. Quase todos os ataques nasceram dos seus
pés”, dizia o cronista, que noutro texto questionava a ausência do Loureiro,
alegadamente porque a direcção “não lhe pagava a noite de sábado para domingo,
que ele não podia trabalhar para poder jogar”. A versão da direcção era de que
só havia feito dois ou três treinos e que por isso nem sequer era convocado.
10 – O
segundo jogo, oito dias passados, foi uma derrota: Cruz 2- Aves 0. O cronista
demonstra preocupação porque derrotas como esta serão consequência da
fragilidade da nossa equipa: “resta-nos, para já, uma equipa bastante
esfrangalhada”, receando que alguém que venha ainda para compor a equipa “já
não venha a tempo de salvar o barco que começou a meter água”.
Na foto: Soares dos Reis, Fernando, Carvalho, Mocho, José Maria, Neira, Lucas e Leandro (massagista); Miranda, Dieste (treinador), Soeiro, José Pereira e Loureiro. |
11 – Um
jornal diário anuncia por estes dias que o Desportivo das Aves acaba de fechar
contrato com Soares dos Reis, que na época passada actuou no Futebol Clube do
Porto, a guarda-redes. “É possível que o novo reforço do Aves possa alinhar já
amanhã contra o Amarante, resolvendo assim as dificuldades criadas pela reprovação
do titular Barros no Centro de Medicina Desportiva”. Outro jornal refere que os
quadros do Clube estavam enfraquecidos pela saída de alguns para o futebol
corporativo.
12 – Como é
que um guarda-redes do Futebol Clube do Porto se muda para um clube da 2ª
regional, depois de ter estado, ao que parece, pronto a assinar pelo Académico
de Viseu? O que é que faz com que um jovem citadino venha viver na Pensão
Alicate, no lugar da Ponte, Negrelos, para jogar no Desportivo das Aves? Ao que
parece, havia relações de amizade e de negócios entre os presidentes dos dois
clubes que facilitaram a transferência. E depois, o atleta encontrou por cá,
por esses dias, a alma-gémea que o amarrou a esta terra e lhe proporcionou um
contrato para a vida e que por cá o mantém, depois de uma carreira de
futebolista profissional em vários sítios e de emigrante e desportista que
continua a ser. Ou não fosse ele, hoje, um dos “Ases do Pedal”.