sábado, 28 de janeiro de 2017

Manuel da Silva Mendes dirigiu interinamente "O Minho, Jornal Político" em 1898

Em 1897 e 1898 publicou-se em Vila Nova de Famalicão o jornal "O Minho" ou, para inserir a segunda linha do título, "O Minho, Jornal Político".


Têm sido citados dois textos de Manuel da Silva Mendes neste periódico: 

“Dr.º Eduardo de Carvalho”. O Minho. V. N. Famalicão, n.º 7 (18 Nov. de 1897),( uma recensão de livro jurídico, assinado M. Silva Mendes)

e
 “Barão da Trovisqueira”. O Minho. V. N. Famalicão, n.º 57 (3 Nov. de 1898) (um obituário, assinado  S.M.)
 Transcrevi noutro post neste blog um outro texto publicado no mesmo jornal, nº 44 (4 de Agosto de 1898) com o título "A Hespanha moribunda", sobre o conflito hispano-americano, assinado Silva Mendes.

Mas, a par da colaboração assinada, deverá Manuel da Silva Mendes ter escrito boa parte dos escritos políticos não assinados de um jornal assumidamente político. Pelo menos durante parte da curta existência do periódico isso deverá ter acontecido já que em notícia de 13 de Outubro de 1898 (nº 54) se pode ler: " Retomou a direcção política desta folha, brilhantemente ocupada até agora pelo sr. dr. Silva Mendes, o nosso redactor sr. Rodrigues Terroso" (sublinhado nosso). Como exemplo, o nº. 49, publicado a 8 de Setembro de 1898 sob o título "Descentralização administrativa", não assinado, pode ser da lavra do ilustre avense que se notabilizou depois em Macau.

Manuel da Silva Mendes: "A Espanha Moribunda"

Transcreve-se a seguir, com grafia atualizada, um texto de Manuel da Silva Mendes, inserto no número 44 de “O Minho – Jornal Político”, publicado em 4 de agosto de 1898 em V. N. de Famalicão


A Espanha moribunda

Nós, os povos latinos, somos os mais incompetentes para apreciar a História da nossa raça nos tempos modernos. Somos educados nos mesmos princípios morais e políticos e, por via de os assimilarmos, não podemos elevar-nos a um critério independente de nós mesmos, como seria necessário para que a nossa apreciação pudesse ser de todo imparcial.
Por isso, qualquer balanço que de nós, os Latinos, resulte sobre o estado atual da Espanha e qualquer previsão que façamos sobre o seu progresso ou regresso futuro, não podem merecer-nos plena confiança. As causas que determinam a deformação de apreciação dos membros da família entre si, são com diferença de intensidade para menos as mesmas que impedem a retidão do juízo crítico dos povos da mesma raça em suas recíprocas apreciações.
Eis uma prova do que afirmamos.
No princípio do conflito hispano-americano todos nós os portugueses exaltávamos o valor, a hombridade, o brio, a disciplina, e não sei que mais coisas bonitas, do exército e da marinha espanhola. Os americanos eram uns indisciplinados; gente de negócios; inadestrados na guerra; com uma marinha de mercenários incapazes de se mostrarem briosos e destituídos do sacro fogo bélico. E afinal?
Afinal, uma desilusão completa. E o resultado, ficarem mais ricos os ricos americanos e a Espanha, sempre inchada como o sapo, à beira da miséria, corrida, destroçada e desmoralizada. Os espanhóis não descem a pedir a suspensão das hostilidades, os espanhóis não se humilham a pedir que lhes não batam – dizia um dia destes um ministro do reino.
Nós, os da raça latina, censuramos a não intervenção da Europa. Mas o facto é que ela não interveio nem intervém e a censura não passa de uma platonice. E de platonice idêntica essa enfiada de palavras sonoras e bonitas: hombridade, brio, honra, y otras cosas mas, que enfeitam um verso mas não se servem à mesa.
Nós gostamos destas mirabolâncias. Ficamos boquiabertos quando ouvimos narrar façanhas tais como o empenhamento das barbas de D. João de Castro (se foi este o prestamista) ou os milagres de Santo António. Ainda hoje no país o livro de mais extração é a cartilha do abade de Salamonde.
A Espanha então vai no couce desta procissão medieval. Os seus principais artigos de exportação são frades e padres para as suas ex-colónias, galegos e camareras, fiestas, processiones, toros, malagueñas constituem a sua riqueza interna. E tudo isto condimentado com honradez, com galhardia, com muito respeito pelas tradições e muito temoe de Diós. É um povo que vive pelo passado; sem vida moderna e sem pão.
O confronto dos povos que desde séculos se emanciparam da educação católico-feudal com aqueles que ainda lhe são subservientes, é sumamente instrutivo. Como os eslavos, os germanos e os anglo-saxões avançam e florescem! E quão retardatários estão os povos de raça latina! Dos inventos modernos saiu algum de Portugal, Espanha ou Itália? Imita-se quando se pode e vai-se vivendo, vai-se caminhando no couce do Progresso acorrentado às briosas, honradas, fidalgas e sempre nobres tradições!...
A Espanha foi assim para Cuba.

                                           SILVA MENDES

sábado, 7 de janeiro de 2017

Concelho de Riba d'Ave: uma ideia que quase resultou...

Na década de 1920, Narciso Ferreira quis criar o concelho de Riba d'Ave.


A reinvindicação de uma estrada transitável entre S. Miguel das Aves e Riba d'Ave foi um dos temas mais focados nos primeiros números do semanário "Ecos de Negrelos" que em 1921 se publicava em Aves-Negrekis.

No "Ecos de Negrelos" de 21 de Maio de 1921, num texto assinado por "um  proprietário" a reforçar os escritos anteriores de "um lavrador" sobre a pretendida estrada entre S. Miguel das Aves e Riba d'Ave, escrevia-se : " Não receiem os bairristas, os amigos de Santo Tirso (nós também o somos) que pelo facto de nos concederem este pequeno melhoramento, no que não nos fazem favor algum, lhes fujamos um dia para o novo concelho que o espírito empreendedor de iniciativas francas e rasgadas do sr. Narciso Ferreira sonhara um dia criar na sua risonha freguesia.
Se nos negarem este melhoramento é que será muito pra temer que saiamos da nossa mansidão, da nossa passividade, da nossa borreguice,..

(...) É necessário lembrarem-se de nós com coisas palpáveis e não só com promessas feitas em ocasião em que ameaçamos desferir vôo... Ainda lembram muito bem os engodos que nos foram feitos pelos políticos de Santo Tirso quando a freguesia, na sua maioria, assinou para ser incluida no concelho de Riba d'Ave - engodos tais que conseguiram que, de novo, assinassem o contrário. Cuidado pois, porque desta vez não será assim...