sexta-feira, 13 de março de 2009

Recolhido do cancioneiro da Vila


Á beira do rio Ave
É um regalo morar:
Quem tem sêde vai beber,
Quem tem calor vai nadar.

A agua do rio Ave
Passa por baixo da Ponte.
Quem quizer o cravo verde,
Ponha-lhe a rosa defronte.

Caneiro do rio Ave,
Deixa passar os peixinhos.
Quem namora ás escondidas
Quer abraços e beijinhos


Variante

Os pombinhos innocentes
Arrolam-se e dão beijinhos.
Caneiro do rio Ave,
Deixa passar os peixinhos.

Caneiro do rio Ave
Alagado seja elle.
Era meia noute em ponto,
Meu amor passou por elle.

Adeus, Adeus, rio Ave,
Adeus, largo Marachão,
Onde o meu amor embarca
Dentro do meu coração.


Agua que passa no rio
Ao longe faz a zoada,
Quem se temer que se arréde,
Que eu não me temo de nada.

Se fores lavar ao rio,
Lava na pedra do meio.
Se vires cahir flores,
Apanha e mette-as no seio.

Adeus, Adeus rio Ave,
Rio de murmuração
Aonde se dão sentenças
Peiores que na Relação.

Em qualquer pinguinha d’agua
Vive a truta e nada o peixe.
Caneiro do rio Ave,
Não temas tu que eu te deixe.

Salsa da beira do rio,
Bota raiz para o lôdo.
Quem tem uma filha só
Julga ter o mundo todo.

Salsa da beira do rio
Qualquer folhinha tempera.
Mais val um amor de fora
Que vinte e cinco da terra.

Salsa da beira do rio,
Alecrim da outra banda:
Heide vencer os teus olhos
Inda que corra demanda.

Adeus, calçada da Azenha,
Sino grande do Senhor.
P’ra banda de “alem do rio”
Tenho eu o meu amor.

Da «outra banda do rio»
Tem meu pai um castanheiro,
Que dá castanhas em Maio
E uvas brancas em Janeiro.

Da «outra banda do rio»
Nem chove, nem faz orvalho.
Menina se hade ser minha,
Não me dê tanto trabalho.

Da «outra banda do rio»
Da «outra banda d’alem»,
Atiram-me com pedrinhas
E eu não sei d’onde ellas vem.

Meninas de Santo Thyrso,
Vinde lavar ao alegre,
Que a agua do rio Ave
Põe a roupa como neve.


A agua do rio Ave
É uma belleza p’ra nós.
Vai ter a Villa do Conde,
Onde tem a sua foz.

Agua do rio vai turva,
Não fui eu que a turvei.
Mas por mal de meus peccados
Agua turva beberei.

In Santo Thyrso de Riba D’Ave
De: Alberto Pimentel



2 comentários:

  1. Mas... esta vila não é a Vila de Santo Tirso, a tal que de pequenina tem graça?
    Está bem, talvez haja alguma coisa de comum na tradição poética...

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  2. Se calhar era mais correcto englobar esta poesia num título género - Cancioneiro do Ave...

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