"A Queda dos Espantalhos"
de Ferreira Neto
Composto e Impresso na Tipografia Central,
Vila Nova de Famalicão, 1977.
Este livro do escritor avense Ferreira Neto, é dedicado "ao amigo Luís Gonzaga Gouveia Carneiro e a todos os democratas dignos deste nome", e junta uma série de artigos que o autor publicou na imprensa, sobretudo no antigo Jornal das Aves, antes e depois do 25 de Abril. O livro teve um certo sucesso e algum escândalo, como de resto tudo o que o autor publicava. Ainda me lembro de o ver em lugar de destaque na montra da livraria e papelaria Central, na Vila das Aves. Dos vários artigos do livro, um chamou-me a atenção pela sua atualidade.
"Dona Crise...
Esta famosa palavra crise, derivante do grego, KRISIS, de KRINEIN, e que em português de velha cepa designa, entre outras coisas, - "situação aflitiva", - que andava desde o seu brilhante nascimento como a brisa sussurrante por entre as franças das árvores ou como "menina bem", com pézinhos de lã e toda taful, pelos alcatifados salões da gente "fina", vá de abandonar repentinamente - neste poético Outono de 1970 - tais recatos e lugares e vir para a rua aos pulos como se fora um cabrito montês e toca de barulhar com tal ímpeto e insistência que quase não se ouve mais nada além de seus desesperantes berros!
É crise do petróleo, crise da lavoura, - principalmente esta - crise da indústria, crise da igreja, crise da diplomacia, crise do ensino, crise dos transportes, crise do desporto, crise da juventude, crise nervosa de... e etc...
Mas, para um psicólogo atento e desassombrado que se debruce sobre tal fenómeno verifica que existe apenas uma só crise! A crise do homem! Sim. A crise do homem é a única crise realmente válida que existe.
A crise do homem é a fagulha que ateia as gigantescas labaredas que devoram completamente todo o complexo edifício da chamada sociedade moderna. A sociedade capitalista..."
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