( e continua, o padre Joaquim…)
“se as mirasse com as suas boas lentes de aros de ouro,
descobriria, através da bruma dos séculos, que o mimosíssimo triângulo que tem
o vértice nos Caniços e a base em Lordelo e Riba d’Ave, foi sempre mais
florescente e povoado que a sua paróquia, chegando a comportar três freguesias,
todas de antiquíssima formação .(…)
As Aves o que são devem-no à sua excelente situação
geográfica, às maravilhosas condições da sua topografia, ao bairrismo dos seus
moradores e à generosidade de alguns dos seus filhos. Não querem a freguesia de
S. Tomé de Negrelos para mãe, quanto mais para pai!...(…)
E também não estão resolvidas a consentirem que se confunda
o seu belíssimo nome “Aves” com “Negrelos”
que não lhes pertence, nem reconhecem a ninguém o direito de lho querer impor.
As quatro letras da palavra “Aves”, para mim e para todos os meus conterrâneos,
valem mais e dizem muito mais que as oito – e dantes eram nove!- de Negrelos.
Resposta do Padre António…
Negrelos, 14-9-930
Lendo no último número do “Jornal de Santo Thyrso” a
correspondência das Aves, veio-me à lembrança o camponês que embirrava com os paus de ferro e o Dom Quixote, que
supunha ver num moinho de vento um inimigo temível a esgrimir lanças; e notei
que o amigo Padre Lemos foi duma infelicidade pasmosa ao pretender dolosamente dissecar e refutar a minha prosa plumitiva, testa, brava e indignada!... (…)
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Foi preciso esperar mais de 20 anos para ver,
ainda que efemeramente, o nome Aves
na estação... |
Eu e os meus patrícios não confundiremos o sexo macho com o
sexo fêmea. Ficamos sabendo que as fêmeas Aves , por si protegidas, têm quatro
penas e o macho Negrelos tem oito e que antigamente tinha nove, mas que lhe foi
cortada uma.
Negrelos está aqui de cima com vida e saúde, as Aves
ficam-lhe aos pés. A linha férrea e o rio separam o macho das fêmeas, não se
misturam. Morra descansado e em paz.
V. Reverência tem a estuar-lhe no peito três amores: o amor
da religião, que professa exemplarmente, o amor da família, que idolatra, e o
amor das peregrinas e queridas Aves,
que o entusiasma e apaixona.
É seu sonho dourado engrandecê-las
com bons caminhos e estradas, casas bem construídas e alinhadas e que tenham
inscrita a ouro, como brasão fidalgo, a palavra Aves.
Eu preferia mandar pintar uma Ave em cada casa. Ficava a
matar esse símbolo onomástico. Nomes são nomes, não enchem barriga, ao passo
que as Aves parecem as naturais que, preparadas com
arroz, fazem um pratinho muito apreciado.
É mais estético e afidalgado pintar uma Ave , e é de mau gosto e até ridículo
escrever a palavra Aves na frontaria das casas.
Quem passar de viagem no comboio, vendo escrita na Estação a
palavra Aves, diz logo: “ ali está
uma gaiola”; e como Aves é um termo genérico,
podem fazer ideia que é um galinheiro
que contem galos e galinhas para despachar . Reparando que todas as casas
ostentam o mesmo onomástico Aves
concluem logicamente: aqui é a terra das galinhas e dos galos, porque existem
muitas capoeiras; como corolário flui
naturalmente que não se deve escrever a palavra Aves na estação de Negrelos nem em casa de rico ou de pobre, de
contrário fica a freguesia de S. Miguel das Aves a ser conhecida por freguesia das capoeiras…
Se a lógica não é uma batata, fica provado filosoficamente que se deve conservar o nome de Negrelos
na estação e não o trocar pelo ridículo Aves.