domingo, 27 de maio de 2012

Aves – Negrelos: um despique jornalístico entre amigos, em 1930.(2)


Em  8-9-930, a resposta do Padre Joaquim da Barca ao Padre António de Xisto:


“Estive tentado a não responder à injusta descompostura que sob o título “Negrelos e S. Miguel das Aves” me deu o meu grande amigo o sr. padre António Maria Monteiro Brandão, no número 18 deste semanário.
O comboio na estação de Negrellos - desconhece-se a data da foto;
 pode ter cerca de 100 anos.
Parece-me tão sem razão a tunda e tão clara a influência de algum “espírito santo de orelha” que estive para a deixar passar sem nenhuma referência.
Mas para que ninguém pudesse acoimar o meu silêncio de desconsideração- coisa que aquele  ilustre senhor não merece – resolvi responder-lhe com a máxima serenidade e mansidão.
Incorri  nas censuras de tão respeitável sacerdote por ter chamado estrangeira e feia à palavra “Negrelos”.
Escreveu ele que eu, ao adjectivar “Negrelos “ desta maneira, fui desprimoroso e ingrato, asseverando para fundamentar a sua proposição, que as Aves deviam tudo a Negrelos.
Como, porém, com certeza por um lamentável esquecimento, não provou as suas acusações, eu podia limitar-me a negar que não fui nem uma nem outra coisa e a rejeitar também como uma autêntica falsidade a sua afirmação de que a minha terra deve tudo a Negrelos (…).
Mas irei mais adiante um bocadinho e não terei necessidade de suar o topete para destruir, até à raiz, aquelas afirmações todas. Todas, todas.
(…) Eu não fui desprimoroso chamando estrangeira à palavra Negrelos, O adjectivo estrangeiro, aplicado a quem não é natural de uma terra, não envolve nenhum desprimor ou então os dicionários estão errados… Ora aqui nas minhas Aves aquele termo é não só estrangeiro mas estrangeiríssimo, porque não nasceu nelas nem nelas está registado, nem no religioso nem no civil. É um enxerto de mau gosto que não pode nem deve pegar.
Ao apelidá-lo de feio  confesso que não fui lá muito cortez… Podia ser mais delicado um nadinha, mas mentiroso não fui… porque Negrelos não é bonito nem bem sonante. Fónicamente não presta para nada. A sílaba “gré” fere os tímpanos como a cantilena da cigarra em tardes de estio.
E a sua significação etimológica, segundo o parecer de alguns, também não é das coisas mais belas do mundo. Fazendo-o derivado daspalavras latinas niger e ager significa campo negro, terra negra… E o negro nunca foi coisa bela….
(… ) O sr. padre Brandão sai-se-nos depois com a seguinte tirada, que é de fazer morrer a rir: As Aves devem tudo a Negrelos!... O próprio mafarrico não se lembrava disto…”

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