Em 8-9-930, a resposta do Padre Joaquim da Barca ao Padre António de Xisto:
“Estive tentado a não responder à injusta descompostura que
sob o título “Negrelos e S. Miguel das Aves” me deu o meu grande amigo o sr.
padre António Maria Monteiro Brandão, no número 18 deste semanário.
O comboio na estação de Negrellos - desconhece-se a data da foto; pode ter cerca de 100 anos. |
Parece-me tão sem razão a tunda e tão clara a influência de
algum “espírito santo de orelha” que estive para a deixar passar sem nenhuma
referência.
Mas para que ninguém pudesse acoimar o meu silêncio de
desconsideração- coisa que aquele
ilustre senhor não merece – resolvi responder-lhe com a máxima
serenidade e mansidão.
Incorri nas censuras
de tão respeitável sacerdote por ter chamado estrangeira e feia à palavra “Negrelos”.
Escreveu ele que eu, ao adjectivar “Negrelos “ desta
maneira, fui desprimoroso e ingrato, asseverando para fundamentar a sua proposição,
que as Aves deviam tudo a Negrelos.
Como, porém, com certeza por um lamentável esquecimento, não
provou as suas acusações, eu podia limitar-me a negar que não fui nem uma nem
outra coisa e a rejeitar também como uma autêntica falsidade a sua afirmação de
que a minha terra deve tudo a Negrelos (…).
Mas irei mais adiante um bocadinho e não terei necessidade
de suar o topete para destruir, até à raiz, aquelas afirmações todas. Todas,
todas.
(…) Eu não fui desprimoroso chamando estrangeira à palavra
Negrelos, O adjectivo estrangeiro, aplicado a quem não é natural de uma terra,
não envolve nenhum desprimor ou então os dicionários estão errados… Ora aqui
nas minhas Aves aquele termo é não só estrangeiro mas estrangeiríssimo, porque
não nasceu nelas nem nelas está registado, nem no religioso nem no civil. É um
enxerto de mau gosto que não pode nem deve pegar.
Ao apelidá-lo de feio confesso que não fui lá muito cortez… Podia
ser mais delicado um nadinha, mas mentiroso não fui… porque Negrelos não é
bonito nem bem sonante. Fónicamente não presta para nada. A sílaba “gré” fere
os tímpanos como a cantilena da cigarra em tardes de estio.
E a sua significação etimológica, segundo o parecer de
alguns, também não é das coisas mais belas do mundo. Fazendo-o derivado
daspalavras latinas niger e ager significa campo negro, terra negra… E o negro
nunca foi coisa bela….
(… ) O sr. padre Brandão sai-se-nos depois com a seguinte
tirada, que é de fazer morrer a rir: As Aves devem tudo a Negrelos!... O
próprio mafarrico não se lembrava disto…”
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