" O sr. padre António, do seu solar de Quintão, olhou para o passado das minhas peregrinas Aves sem óculos..." |
(ainda o Padre da Barca, em 8-9-1930)
“… O próprio mafarrico não se
lembrava disto! …. Depois chama-lhe carcaça seca, mirrada, esquelética e sem
vida. Em primores ninguém o vence, meu caro amigo, nem em fantasias!
E mais abaixo dá-lhe uma cabeça
com bico, garras e asas e acaba por lhe chamar Ave medonha! Isto é que é usar
termos polidos, sem falar na sua impropriedade, pois a minha freguesia não tira
o nome que orgulhosamente usa de nenhuma espécie de animais alados, mas dos
dois rios murmurantes que a cingem com a sua linfa e cuja frescura e poesia
admiravelmente traduz!...
(…) Se S. Tomé tem caminhado tão
vagarosamente; se não tem tido energias para se engrandecer a si própria, como
poderia ser capaz de transformar as Aves na princesa do concelho?
(…) Ao antigo “Julgado de
Negrelos”, do qual a sua terra se orgulha de ter sido a sede, com o que nada
temos, nenhum bem nos veio e nunca lhe pertencemos.
A sua influência, infelizmente
bem restrita, jamais conseguiu fazer-se sentir do lado de cá do Ave que nos banha
pelo nascente, o Avicela, o Avesinho.
Aqui mandou primeiro Barcelos e
depois Famalicão. A nossa ascendência é bem mais distinta e fidalga. E note o
sr. Padre António que os famalicenses já
nesse tempo davam a esta minha terra o
qualificativo de “pérola” do seu concelho. É evidente que à “Fábrica de Fiação
e Tecidos do Rio Vizela” alguns favores devemos. Mas ela não foi fundada por S.
Tomé de Negrelos. Os capitais de tal empresa eram estranhos a ela. O ser aí fundada foi uma questão de sorte. Nada mais. E ela, para atingir o esplendor e
a importância que hoje tem –o que não pouco tem contribuído para o progresso de
S. Tomé – teve de procurar as Aves que lhe forneciam mais vantagem na largueza
do terreno e na proximidade do caminho de ferro. Se não mudasse de freguesia,
não valeria um terço do que hoje vale e S. Tomé pouco mais adiantada estaria
que no tempo dos fidalgos de Vilela ou do Paço.
O sr. padre António, do seu solar
de Quintão, olhou para o passado das minhas peregrinas Aves sem óculos. E
depois a miopia não o deixou ver nada.”
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