sábado, 9 de junho de 2012

Aves – Negrelos: um despique jornalístico entre amigos, em 1930.(6)


Aves, 23/9/1930
O que as Aves são…

" o murmurante Ave fez-se seu padrinho..."
         As minhas dilectíssimas Aves valorizam-se de dia para dia e de dia para dia é mais intensa e vibrante a sua ânsia de progresso (…). Querem vencer e hão-de vencer.(…)
         O seu nome – “Aves” – para quem lhe sabe a origem e for susceptível  de se impressionar pelo belo, vale um poema e não há chocarrices e graçolas que consigam diminuir-lha a valia, roubar-lhe os ânimos, ofuscar-lhe a poesia. Ali, ao norte, temos Riba d’Ave, rica e formosa; mais para o sul, Santo Tirso de Riba d’Ave, primeiro, a vila donairosa, inconfundível; e, depois, num vale formosíssimo, onde as vinhas e os laranjais reverdejam pomposamente, aninha-se, num grande tabuleiro alfombrado de relvas, Refojos de Riba d’Ave.
           O murmurante Ave, ao beijar essas terras na sua passagem para o mar, fez-se seu padrinho. E que lindas e esbeltas afilhadas escolheu e que magníficos enxovais lhes ofertou.
        Para com S. Miguel levou mais longe ainda a gentileza: foi dela também padrinho e arranjou-lhe uma madrinha de peregrina formosura:
         O Avicela, o seu melhor tributário! E a esta afilhadinha, para se não confundir com nenhuma das outras, resolveram os dois, de comum acordo, dar-lhe um nome que traduzisse os encantos de ambos e que a todos lembrasse, através dos tempos, a frescura dos salgueirais que os orlam, o suavíssimo murmúrio das suas linfas ao deslizar pelas pedras dos açudes e ao amor do primeiro abraço que lhe deram.
           E escreveram-lhe na fronte nobre e bela. S. Miguel “ De Entre os Aves”.
           (…) E em todo o Portugal só o fará derivar de passarada quem não pescar patavina de onomatologia.
           (…) Vai na vanguarda. E tem tudo isto sem dever nada às seis paróquias que a cercam, às quais pode dar, e dá de facto, lições de actividade, abnegação e bairrismo.
           As minhas Aves queridas têm hoje uma aspiração muito legítima. Com tudo o que acima mencionei, com as águas do Amieiro Galego  e com a iluminação eléctrica, querem ascender à categoria de vila! E porque não?  Não as há por esse Portugal fora muito mais atrasadas e pobrezinhas? Eu creio que ainda hei de ter o gosto de ver nas geografias, na relação delas, a Vila das Aves, ainda que isso pese a uns invejozinhos que em seu redor medram e que ainda a hão de saudar com respeito, venerar com afecto  e reconhecer como terra de brios grandes(…).

          Padre Joaquim de Barca

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