Caniços, (o inferno?) em 1909 |
( O Padre António, em Setembro de 1930...)
Que era ridículo e irrisório já lhe
fiz ver, que é despropositado e falso, fácil é demonstrá-lo, sem recorrer à
filosofia jocosiana. Para que fosse apropriado era mister que o Rio Ave, de
quem a sua freguesia parece herdar, embora impropriamente o onomástico Aves
passasse mais perto da Estação que Rio Vizela, mas é o contrário.(…) Portanto
devia chamar-se estação do Rio Vizela, a indicar que este rio passava perto, e
não estação do Rio Ave, que está longe e muito menos das Aves, a não ser que
este nome derive de passarada.
Transformar-se de Rio Ave em
fêmeas Aves ou confundir-se, o meu amigo não quer por recomendação expressa de
última vontade , antes de lhe arrefecer o
céu da boca. Além disso
A transformação por metempsicose
do Ave, rio, em aladas
bicharocas Aves, é um disparate, um verdadeiro contra-senso, uma falsidade!
Deveria neste caso chamar-se freguesia e estação do Ave, e não das Aves, como bem fizeram os
habitantes de Riba d’Ave, de Santo
Tirso de Riba d’Ave (…), e os de
sobre o Tâmega, etc. que não usaram o
plural, mas o singular.
É uma falsidade, é um erro, dizer
que um é ao mesmo tempo dois, e portanto, acertadamente andaram
estes povos cultos e civilizados em usar o onomástico Ave e Tâmega e não Aves e
Tâmegas, etc.
Das duas uma, não há que fugir, ou os antepassados da sua freguesia puseram
ou deram o nome de Aves por causa da passarada, ou então temos forçosamente
de concluir que eram estúpidos e bárbaros;
e ainda existem na sua freguesia alguns bárbaros,
e é o colega que o afirma em letra redonda, no último
número deste belo jornal!
De tudo isto se vê claramente que
há corrupção e transformação de palavras e de sexo e, portanto, o nome de Aves
é despropositado, impróprio e falso. Ora isto implica a existência dum nome
próprio e verdadeiro, e este é Negrelos
. Por conseguinte, não deve jamais chamar-se das Aves, mas Estação de Negrelos. Ademais as Aves, como seres viventes, morrem, statutum est semet mori, depois de
mortas corrompem-se, e conseguintemente cheiram mal, jam fetet; ao que mal cheira chama-se porcaria, que nem toda a água
do rio Vizela, com muito sabão de mistura, é capaz de lavar.
O colega varias vezes afirma, e
uma vez tentou infantilmente demonstrar que a sua freguesia tirou o nome dos dois Aves. Qual Aves? Ou qual
carapuça? Nunca se chamaram Aves aos dois
rios até Caniços, nem tão pouco
daqui a Vila do Conde.
(…) O rio Vizela com propriedade
filológica ou científica jamais teve o nome de Avezinho, rio pequenino. Onde
estava o rio grande para termo de
comparação? Avizela, rio pequenino, companheiro e amigo inseparável do Ave, rio
grande! (…)
O meu amigo e colega padre Lemos
a respeito da ciências filológica está muito atrasado, não pesca patavina, e não admira, porque
os seus dicionários estão errados neste ponto ou são a sucata da biblioteca
da Bruxa ou Moura Encantada de Valgas,
com morada antiquíssima nessa freguesia. Decomponha como quiser, e dê-lhe a
etimologia mais arguta que entender que com propriedade científica não consegue
do Vizela fazer Avizela, rio mais pequeno (…)
Na bruma dos séculos, até há cinquenta anos os habitantes de S.
Tomé de Negrelos e de Rebordões, e toda a gente dizia que o lugar de Caniços
era o inferno, e apontando para a
minúscula e antiquíssima freguesia de Romão e para toda a parte sul de S.
Miguel, a que foi anexa, chamavam a África, e bem o parecia.
O colega não o pode negar e sabe
perfeitamente que ainda aí existem exemplares
autênticos de bárbaros e vestígios dos romanos e dos mouros…
Era realmente feio o caco velho de Romão e toda a parte sul das Aves, que desde
Romão abrangia o covil da Bruxa de
Valgas e a aldeola do Tiromiro e seus
vizinhos Salsa e Capela; estendendo-se
pelo lado de baixo da Botica Velha abrangia o moinho do Ruivo e tinha como terminus a casa em que nasceu o antigo Saia, mais tarde benemérito Conde de S.
Bento.
(continua)
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